OPINIÃO: Para lavar a alma, um banho de bola

Escrito por João Duarte

 

Foto:Mateus Lotif / Fortaleza EC

 

Um clima de tensão pairava sobre o jogo decisivo entre Fortaleza e Colo-Colo na última terça-feira (06). Os conflitos envolvendo a Garra Blanca, principal torcida organizada do clube chileno, desde os incidentes de 10 de abril até os momentos que antecederam a partida no Castelão, lançaram dúvidas sobre como o confronto seria conduzido. Nos arredores do estádio, um policiamento reforçado para garantir a segurança dos torcedores cearenses. Dentro de campo, um futebol apaixonante para garantir uma noite mágica não só para os cearenses, mas para a América do Sul inteira.

A maior vitória do Fortaleza na história da Libertadores surgiu em um momento improvável. Além dos problemas extracampo já mencionados, a equipe comandada por Juan Pablo Vojvoda enfrentava uma sequência incômoda de 10 jogos sem vencer, com 3 derrotas e 7 empates, encerrando o mês de abril sem um único triunfo. O desempenho diante do São Paulo, no Morumbis, trouxe um leve sopro de esperança, mas o empate sem gols ainda deixava dúvidas no ar. O tira-teima seria na “Noche de Copa”.

A torcida do Tricolor do Pici, mais uma vez presente em bom número, fez a sua parte nas arquibancadas. Mesmo após o corte do hino nacional pelo protocolo da Conmebol, os torcedores seguiram cantando e comemorando cada chance criada. A primeira, veio logo aos 5 minutos, quando Deyverson finalizou com perigo e obrigou o goleiro Cortés a fazer grande defesa.

Os primeiros 20 minutos deixaram claro o tom da partida: um Fortaleza que, aos poucos, reencontrava seu melhor futebol, retornando ao 4-3-3 tradicional, com posse de bola e controle do meio-campo. Do outro lado, o Colo-Colo apostava em um esquema mais cauteloso, com um 5-4-1 compacto, buscando explorar os contra-ataques.

A dúvida que pairava era: como o Leão conseguiria furar o ferrolho chileno? O próprio Colo-Colo nos respondeu com um erro aos 23 minutos. Na tentativa de sair jogando com três zagueiros e sobrecarregando um dos lados do campo, Pávez tentou inverter a bola para Isla, na direita. Mas, Bruno Pacheco, atento e bem posicionado, antecipou a jogada, interceptou o passe e, com inteligência, serviu Breno Lopes, que não desperdiçou e abriu o marcador.

Cinco minutos depois, o mesmo Breno voltou a ser decisivo. Aproveitou um vacilo de Vidal no meio-campo, roubou a bola e acionou Marinho, que conduziu da direita para o centro com liberdade e ampliou o placar.

O terceiro gol veio aos 38 minutos da primeira etapa, em uma jogada de escanteio. Após cabeceio de Marinho, a bola quicou no gramado e o goleiro Cortés, na indecisão, saiu mal do gol, permitindo que Deyverson, oportunista, completasse para as redes.

Há muito tempo não se via uma primeira etapa com tamanho volume de jogo por parte do Fortaleza. Foram oito finalizações, seis delas em direção ao gol, resultando em três tentos. A equipe mostrou intensidade na retomada da posse no campo ofensivo e eficiência nos contra-ataques em velocidade. Defensivamente, o Tricolor de Aço foi sólido, permitindo poucas investidas do adversário.

Na segunda etapa, o Colo-Colo voltou com uma postura mais ofensiva, tentando reagir. Aquino passou a ser o principal articulador das jogadas, buscando espaços. O Fortaleza, por sua vez, adotou uma postura equilibrada: controlou o ritmo da partida sem se expor, mas também sem recuar. O time cearense administrou o placar com maturidade.

A principal chance do time visitante veio aos 25 minutos, em jogada pela direita que terminou com um gol de Correa, posteriormente anulado por impedimento. Já aos 40, Lucero aproveitou o passe de Pikachu e marcou o quarto gol da noite, selando a goleada.

Em um corpo saturado de tensão e impurezas, o jogo transformou-se em um ritual de alívio. Cada gol foi uma massagem precisa, desfazendo os nós dos nervos, enquanto a bola, ao beijar as redes adversárias, lavou boa parte das insatisfações acumuladas nos últimos confrontos.